ALMOÇO NA CASA DE POBRE por Aurineide Camurupim
Olhe, eu vou dizer uma coisa… almoço na casa de pobre é engraçado demais, pense!
No dia que a comida é galinha, é uma confusão. É só uma galinha para repartir pra todo mundo, e tem um detalhe importantíssimo; todos os pedaços são de propriedade privada, exclusivos, tudo já tem dono. Cada parente já sabe o pedaço que vai comer… lá em casa é assim, a coxa é da mãe, a asa é da minha prima Mozariene, o peito é do pai, a moela é da vó, a sobrecoxa é da minha madrinha de fogueira, a titela é do meu primo Francimar, o mucumbú é da tia Adelaide, o pescoço e os miúdo é da Das Chagas, e ai de quem se “atrever” a comer o pedaço do outro que a confusão é grande menino.
Eu, particularmente, só gosto do sobrecu, que é pra não ter concorrência, mas tem um tio meu, o Epifânio, o apelido dele é Esmeril, pense num diabo dum véi que come, viu. O bicho come mais que uma impinje. Ele só vive na rua e quando chega em casa atrasado para o almoço, vai direto pro fogão e faz aquela pergunta clássica; todo mundo já comeu? Em negada? não falta mais ninguém? Aqui só tem o meu? Né? E em casa de pobre é assim, se não comer na hora, depois não tem mais, nem adianta guardar… e pra desentalar, temos refresco… refresco na verdade é diferente de suco, vou dizer como é o refresco… é uma manga coité para 3 litros d’agua, só assim pra poder dar pra todo mundo desentalar a mistura, tem também refresco de murici, jenipapo e tem também a garapa, que é feita de agua com rapadura… eita… e a melhor parte é que é a família comendo e os bicho arrodeando no seu pé… é gato miando, é cachorro com olhar de pidão, é galinha passando e o divertimento é ficar colocando comida pros bichos. Os gatos maaaagroooo… os “pobi” dos cachorros, menino, pense… só o endereço.
Uma vez, eu em casa varrendo o terreiro, limpando a bosta das galinhas, enchendo as quartinhas, aí passa minha colega Francilene; Oi aurineide, tudo bom, mermã? Mulher, vamos almoçar lá em casa hoje? O pai matou um peba. Eu disse: ora se eu não vou... Me arrumei toda, passei talco, cheguei lá 11 horas da manhã pra comer esse peba. Deu meio dia e nada, uma hora da tarde e nada, duas horas da tarde nada do peba… aí eu perguntei: Francilene, mulher, cadê o peba? E ela: “pera” mulher, o pai ta fazendo… quatro horas da tarde, lá se vem Francilene com um prato de arroz e ovo. Eu disse: mulher, cadê o peba? E ela disse: mulher, mais peba do que isso, o que é que tu quer?
Fim.
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